Entrevista a Alcibíades Guedes, Presidente do INEGI e especialista em cadeia de abastecimento

Texto e fotos Cátia Vilaça
A partir da pandemia, a instabilidade internacional tem sido uma constante. As guerras territoriais e comerciais trazem desafios acrescidos às cadeias de abastecimento, num setor sensível à perecibilidade e onde ninguém quer ouvir falar em disrupções. O seu encurtamento pode ser uma necessidade, mas só é possível ir buscar alimentos onde eles, de facto, existem. Com uma vasta experiência em cadeias de abastecimento, Alcibíades Guedes deixa algumas ideias sobre a forma de lidar com este panorama.
Que aspetos destacaria neste momento como mais sensíveis no que respeita à logística e distribuição alimentar?
As questões de segurança alimentar e preservação dos alimentos, da previsibilidade, ou questões de foro ambiental e de sustentabilidade da cadeia?
O tema da segurança alimentar já tem um percurso histórico e de maturidade elevada porque é uma indústria com enorme exigência em termos de segurança. Normalmente comparo com a farmacêutica: para mim alimentar e farmacêutica estão muito próximas porque são indústrias em que esse tema da segurança, da rastreabilidade, da temperatura e de todos os critérios físicos é muito importante. Na segurança alimentar não há nada de muito disruptivo ou muito novo a acontecer porque já está aí há muitas décadas, por isso é uma lógica de melhoria contínua e de maturidade elevada. Os aspetos da sustentabilidade são mais recentes e têm vindo a surgir cada vez mais na agenda como um aspeto determinante das nossas decisões quer de gestão, quer dos consumidores, na compra, quer da sociedade em geral.
Diria que os temas da sustentabilidade ambiental são, no momento atual, um dos novos desafios que temos de abordar, encaixar no nosso processo de decisão e tomar decisões mais corretas, mais conscientes, mais suportadas, que envolvam essa componente. Depois todo o contexto das cadeias globais é outro grande desafio porque estamos com disrupções, estamos com problemas geopolíticos, e as cadeias alimentares, sendo cadeias muito maduras e muito globais, são das que tipicamente sofrem com este tipo de problemáticas. O outro grande desafio que vejo é este contexto de incerteza geopolítica e geoestratégica e o que vai trazer nos próximos anos para as cadeias de abastecimento.
A seguir à pandemia e no âmbito do Green Deal, a Comissão Europeia lançou a Estratégia “Do Prado ao Prato”.
Que alterações essa estratégia veio introduzir na gestão da cadeia de abastecimento?
As cadeias alimentares já são por natureza, pelo menos da minha experiência na área, fortemente estendidas, e como tal, na perspetiva de quem é especialista em cadeia de abastecimento, muito interessantes porque vão desde o campo até ao prato. [A estratégia] traz quase um branding e um enfoque em cima disso, mas diria que já estava embebido nas opções que os vários players foram tomando ao longo das décadas. Sabemos que não podemos ter um produto de qualidade no prato sem ter toda uma cadeia que vai muito a montante. Chegando ao mar ou chegando ao campo ou à floresta ou onde for, tem de ser uma cadeia muito bem estruturada para montante. Sendo muitos destes produtos naturais e de cariz alimentar, se não fizermos isso até montante, não vamos ter qualidade no produto final. Uso sempre a indústria alimentar como um exemplo porque quer se trate de um congelado, de um vinho, de uma bolacha, de um fresco, de qualquer produto que eu tenha no prato, se me quero diferenciar, se quero fazer melhor, tenho de ir até lá atrás.
Portanto, a articulação entre os diferentes players da cadeia é fundamental.
É fundamental, e essa articulação tem características técnicas exigentes, por questões de segurança alimentar, temperatura, manuseamento, e as cadeias têm de ser cada vez mais integradas. Não digo verticalizadas no sentido de terem um dono, mas de serem integradas no sentido da informação, da rastreabilidade e das garantias que os players têm de dar de que estamos a atuar com os padrões adequados nesta área. Estou completamente de acordo com esse conceito [que vai] do campo até ao prato, e apesar de tudo, quem pensa cadeias de abastecimento, nesta área alimentar já foi pensando assim, pelo menos nas últimas décadas (...)
Leia a entrevista completa na TecnoAlimentar 44, abril/ junho de 2025, dedicada aos desafíos na logístisca da indústria alimentar
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