Trichinella spp. na Europa e em Portugal

carne

Mariana Fonseca1, Humberto Rocha1, Teresa Letra Mateus1,2,3

1 Departamento de Medicina Veterinária, Escola Universitária Vasco da Gama, Coimbra

2 Escola Superior Agrária, Instituto Politécnico de Viana do Castelo, Ponte de Lima

3 EpiUnit – Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto

Resumo

Neste artigo pretendemos fazer uma breve revisão sobre a ocorrência de Trichinella spp. na Europa e em Portugal.

1. Trichinella e triquinelose

Os nematodes parasitas do género Trichinella estão difundidos por todo o mundo apenas com a exceção da Antártida (Zamora et al., 2015) e são responsáveis pela zoonosetriquinelose (Moskwa et al., 2013).

Há dois ciclos de vida descritos para os parasitas deste género: o doméstico e o silvático (Lopes et al., 2015). Em ambos os ciclos, a infeção dos hospedeiros (carnívoros e omnívoros) ocorre pela ingestão de carne contaminada com larvas infetantes (Moskwa et al., 2013).

No ciclo doméstico a infeção dos hospedeiros, por exemplo porcos, dá-se pela ingestão de roedores infetados, restos de alimentos mal confecionados e canibalismo. Este ciclo ocorre principalmente em locais onde há produção caseira de suínos. O ciclo silvático inclui sobretudo animais predadores que ingerem presas infetadas (Lopes et al., 2015).

A raposa vermelha (Vulpesvulpes) é considerada o hospedeiro reservatório mais importante no ciclo silvático devido à sua dieta (Moskwa et al., 2013). Como hospedeiros reservatórios podem ainda ser incluídos os lobos (Canis lupus), os linces (Lynx spp.), os ursos (Ursus spp.) os chacais (Canis aureus) e os guaxinins (Nyctereutes procynoides) (Lopes et al., 2015).

Os humanos podem adquirir a infeção através do consumo de carne parasitada crua ou que não foi confecionada adequadamente.

A infeção também pode ocorrer pela ingestão de derivados de carne, seja de animais domésticos ou selvagens, embora esteja historicamente mais associada a carne de suíno (Zamora et al., 2015).

O risco de infeção também é influenciado pelos hábitos alimentares, pela cultura e tradição, e embora o consumo de carne de carnívoros/omnívoros tenha associado um risco maior, a carne de herbívoros, como cavalo, também pode conter larvas infetantes de Trichinella spp. (Rostami et al., 2017).

A triquinelose em humanos apresenta duas fases: a fase intestinal que dura cerca de uma a duas semanas e apresenta sinais clínicos como dor abdominal e diarreia devido à reprodução dos adultos na mucosa intestinal, e a fase muscular que se dá aproximadamente uma semana pós-infeção e em que ocorre febre, mialgia, miocardite, reações alérgicas, edema facial e encefalite devido à migração das larvas para o músculo estriado (Faber et al., 2015).

A triquinelose é umas das zoonoses transmitidas por alimentos com maior importância em saúde pública e que representa um problema económico e muitos países.

Atualmente na União Europeia, o método de referência para deteção de Trichinella spp. em carne de suínos domésticos após o abate é o método da digestão artificial de uma amostra de músculo. É de referir que a regulamentação da União Europeia indica ser importante monitorizar a existência de triquinelose também em cavalos e espécies selvagens como javalis e raposas(Lopes et al., 2015).

(continua)

Nota: Artigo publicado na edição impressa da TecnoAlimentar 18, no âmbito do dossier Química Alimentar.

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