Maturação: condição essencial à valorização da qualidade de uma carne

As exigências do mercado, dos consumidores, por produtos de maior qualidade, devem mobilizar os produtores e a indústria da carne a adequarem os seus sistemas de produção por um lado, do abate e da comercialização, por outro, a esta procura cada vez mais exigente.
Diferentes atributos organoléticos da carne, percebidos como um todo, determinam a maior ou menor aceitabilidade por parte do consumidor e a sua disponibilidade para pagar um preço mais elevado e repetir a experiência.
Entre os atributos da carne que mais influenciam a satisfação do consumidor, destacam-se a tenrura, a sucosidade, a textura, o marmoreado e o flavour (conjunto de sensações que incluem o aroma e o gosto).
De entre estes fatores, a tenrura - que pode ser definida como a maior facilidade em que esta é mastigada - desempenha certamente um papel mais decisivo na preferência do consumidor, embora também seja o atributo da carne mais sujeito a variações (Lagerstedt et al., 2008; citados por Carolino et al., 2009).
Os fatores pré-abate influenciam muito a qualidade final da carne, mas não bastará ter a melhor genética, uma alimentação equilibrada e de boa qualidade, o melhor maneio, os melhores cuidados durante o transporte e a melhor higiene, para obter uma carne de excelente qualidade.
Sendo tão importante a qualidade organolética da carne, toda a fileira deverá preocupar-se, não só com as questões relacionadas com a genética, a qualidade da alimentação dos animais e todos os cuidados que rodeiam o seu abate, mas também com a maturação da carne (transformação dos músculos em carne) e com os fatores e tecnologias que possam influenciar esta transformação.
O músculo
As carnes são compostas por quatro tipos de tecidos: tecido muscular, tecido conjuntivo, tecido epitelial e tecido nervoso. O mais importante componente da carne é o músculo, que é dividido em músculo estriado (esquelético e cardíaco) e músculo liso. O músculo esquelético é o mais abundante na carcaça e o que tem maior valor económico. É composto essencialmente por proteínas, gordura, água e, em menor quantidade, por substâncias azotadas não-proteicos, carbohidratos e minerais.
As proteínas dos músculos podem ser divididas em três classes: miofibrilares, sarcoplasmáticas e proteínas do estroma.
A unidade estrutural essencial do músculo é a fibra muscular, que é uma célula longa, estreita, multinucleada, que pode estender-se de uma extremidade à outra
do músculo, alcançando aproximadamente 10 a 100 μm de diâmetro. Os diâmetros das fibras musculares diferem entre os diversos músculos e entre espécies, sendo influenciada pela raça e pelo sexo do animal, pela castração e pela alimentação.
Tendem a aumentar com idade e a atividade física (Vestergaard et al., 2000).
As proteínas sarcoplasmáticas constituem 30% a 35 % da proteína total do músculo esquelético. Entre elas, estão a mioglobina e as enzimas responsáveis por todos os processos de síntese e de produção de energia necessária à contração muscular. As proteínas do estroma (10% a 15%), são as proteínas do tecido conjuntivo, menos solúveis, constituídas principalmente por colagénio e elastina.
As fibras de colagénio - cuja quantidade influencia muito a tenrura da carne - são relativamente insolúveis e pouco extensíveis e a sua quantidade é influenciada também pela genética, sexo e idade do animal.
O músculo é um tecido cujas funções fisiológicas são facilitar o movimento e manter a postura durante a vida do animal. A força que é gerada pela contração muscular é transmitida através de tecido conjuntivo aos tendões causando o movimento do esqueleto.
Geralmente, os músculos com um maior papel na locomoção são mais ricos em tecido conjuntivo. Os músculos mais ligados à manutenção da postura, por exemplo os músculos situados ao longo da coluna, têm muito menos tecido conjuntivo, e fazem parte das peças de talho que atingem maior preço.
A célula muscular (fibra muscular) é composta por um certo número de fibras paralelas, as miofibrilas, que contêm as proteínas responsáveis pela contração, numa série de unidades repetidas, chamadas sarcómeros. Estas proteínas contrácteis consistem principalmente em miosina e actina (esta mais fina que a primeira). Para além disso, existem proteínas reguladoras (troponina e tropomiosina).
Após o abate, o evento mais significativo para a célula muscular é a falta de oxigénio. Em consequência disso, esta passa a funcionar anaerobiamente metabolizando o açúcar, a glicose, em ácido láctico, que se acumula, causando uma acidificação da célula muscular e uma consequente descida do pH muscular.
(Continua).
Nota: Este artigo foi publicado na edição n.º 7 da Revista TecnoAlimentar.
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