A Jornada da Maçã: da origem ao aproveitamento sustentável

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O bagaço de maçã, designação comum atribuída aos biorresíduos resultantes do processamento deste fruto, constitui um recurso valioso para o desenvolvimento de soluções sustentáveis e inovadoras no setor agroalimentar. Rico em fibras alimentares, polifenóis e outros compostos bioativos, o bagaço de maçã tem despertado um interesse crescente por parte da comunidade científica e da indústria, sendo considerado uma matéria-prima promissora para a produção de ingredientes funcionais, aditivos alimentares e outros produtos de valor acrescentado.
Esta revisão destaca os avanços recentes na recuperação e aplicação do bagaço de maçã através de tecnologias ecológicas, no contexto da economia circular. Além disso, salienta os benefícios ambientais e económicos da reintegração de resíduos agroindustriais na cadeia produtiva, promovendo sistemas alimentares sustentáveis e a minimização de desperdício.
Introdução
A macieira (Malus domestica (Borkh.) é uma das quatro principais espécies frutíferas cultivadas a nível mundial, sendo amplamente apreciada pelo seu sabor característico e elevado valor nutricional. De acordo com os dados da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), a produção mundial de maçã atingiu, em 2020, cerca de 86 milhões de toneladas, sendo cerca de 59 % produzidos na região asiática. Além disso, as maçãs contêm diversos macro e micronutrientes essenciais, como hidratos de carbono, fibras dietéticas e vitaminas. Com o crescimento populacional e a consequente intensificação da procura por alimentos mais saudáveis, a indústria de processamento de maçã tem vindo a ganhar destaque, sendo utilizadas grandes quantidades de frutos para a produção de derivados como sumo de maçã, sidra e chips de maçã. Como resultado, a popularidade e o cultivo de maçãs aumentou rapidamente a nível global, sendo a produção desta indústria estimada em 10 biliões de dólares.
A produção e o processamento de maçã originam anualmente milhões de toneladas de biorresíduos, nomeadamente, casca, caroço e sementes do fruto, designados por bagaço de maçã. De um modo geral, a maior parte destes subprodutos é descartada como resíduo industrial, devido à sua natureza perecível. Apenas uma pequena fração é aproveitada para a formulação de rações animais ou como meio de cultura para fungos comestíveis. Ainda assim, os resíduos do processamento da maçã são ricos em compostos bioativos, o que tem despertado o interesse crescente da comunidade científica na sua valorização, com o objetivo de aumentar o seu valor económico e, simultaneamente, mitigar impactos ambientais. (...)
Por Liege Aguiar Pascoalino,
Lillian Barros,
João C. M. Barreira,
M. Beatriz P. P. Oliveira,
Filipa S. Reis
CIMO, LA SusTEC, Instituto Politécnico de Bragança
REQUIMTE/LAQV, Faculdade de Farmácia, Universidade do Porto
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