Desenvolvimento de um snack para introdução de alergénios na alimentação infantil
Por: Eulália Monteiro1, Ângela Marques2, Susana Caldas Fonseca1,3
1 Faculdade Ciências da Universidade do Porto (FCUP)
2 Petit Papão®,
3 GreenUPorto/Inov4Agro, DGAOT, FCUP
RESUMO
A prevalência de alergias alimentares em crianças dos países desenvolvidos tem vindo a aumentar nas últimas duas décadas. A introdução de alimentos alergénicos, como o ovo e o amendoim, durante a diversificação alimentar, bem como o enriquecimento dos alimentos com ómega-3 (ω3), devido às suas propriedades anti-inflamatórias, podem reduzir o risco de alergias.
O objetivo deste trabalho foi desenvolver um snack adequado ao período de diversificação alimentar das crianças dos 6 aos 12 meses de idade, com enfoque em: i) introduzir dois dos alergénios mais prevalentes, o ovo e o amendoim, ii) obter um produto nutricionalmente adequado, especialmente no enriquecimento em ω3 para promover a diminuição do risco de alergias, e iii) atrativo, saboroso e de consumo autónomo pela criança.
Após 8 ensaios de otimização da formulação e do processo, obtiveram-se scones com uma elevada riqueza nutricional, ao nível dos macro e micronutrientes, bem como em ω3, apesar de o teor mínimo exigido para a tiamina (vitamina B1) não ter sido alcançado. Assim, ambos os scones são opções de snacks seguras, práticas e nutritivas, biológicas e isentas de glúten, alinhadas por isso com as tendências alimentares atuais.
INTRODUÇÃO
Nas últimas duas décadas, a prevalência de alergias alimentares graves tem aumentado rapidamente nos países desenvolvidos, nomeadamente nas crianças, sendo a principal causa de anafilaxia e morte. Estima-se que cerca de 90% das reações alérgicas são mediadas pela IgE, sendo o leite de vaca, o ovo, a soja, o amendoim, a noz, o trigo, o peixe e crustáceos os alimentos mais frequentemente associados (Abrams et al., 2023).
Os alimentos alergénicos poderão ser introduzidos aquando da diversificação alimentar, ou seja, após as 17 semanas de idade, de forma a aumentar o desenvolvimento da tolerância oral. De acordo com as novas recomendações da European Academy of Allergy and Clinical Immunology (EAACI) de 2020, a melhor altura para a introdução do ovo e do amendoim será entre os 4 e os 6 meses de idade, em que o ovo deve ser oferecido cozido e o amendoim sob textura modificada (Halken et al., 2021).
Intervenções nutricionais, incluindo o consumo de ácidos gordos polinsaturados do tipo ω3 com propriedades anti-inflamatórias, são fundamentais na prevenção e tratamento destas alergias. Contudo, nos países ocidentais, as recomendações para a ingestão de ω3 não são cumpridas (Sartorio et al., 2021).
Optar por alimentos fontes de ω3, biológicos e com fontes provenientes da dieta mediterrânica, podem ser opções mais nutritivas e com menor impacto ambiental (Gomiero, 2018).
Nos últimos anos, a saúde e o bem-estar têm sido os impulsionadores das principais tendências alimentares, destacando-se os snacks saudáveis, os produtos biológicos e os isentos de glúten, os produtos alimentares sem adição de ingredientes sintéticos e os produtos alimentares fortificados ou com propriedades funcionais (Duarte et al., 2019).
Os snacks são cada vez mais oferecidos às crianças, por serem práticos, versáteis e nutritivos. Estes são frequentemente utilizados no método de diversificação alimentar baby-led weaning (BLW). Este método, que parece ter cada vez mais adesão, consiste na ingestão autónoma pela criança, de alimentos derivados da refeição familiar, preferencialmente, através das suas próprias mãos (Hess et al., 2016).
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